Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O preconceituoso (Segunda parte)

- Aqui quem faz as leis sou eu. Que eles acertem o caminho do inferno primeiro que eu. E que levem também todos os seus filhos.
- Não é uma posição muito radical.
- Ninguém sabe o porquê desse meu ódio. A minha raiva vai durar até a morte e se prolongará por toda a eternidade.
Aquilo não era só preconceito. Era ódio mortal. Agradeci a “entrevista” e fui embora espalhar a novidade, através do meu “jornal oral”. Espalhava a notícia e, ao mesmo tempo, ficava pensativo, tentando entender a razão para tanto ódio. O povo tinha sido até gentil nos comentários sobre o Dr. Branco. Ele era um animal feroz. Um cão. Um nazista.
Certo dia, soube que o advogado estava prostrado em uma cama do Hospital João Câncio Fernandes. Decidi fazer nova entrevista para saber se o homem tinha mudado de opinião, pois os médicos já haviam carimbado o passaporte dele para o além. Sem usar qualquer artimanha, dada a falta de fiscalização nos hospitais das cidades interioranas, fui direto ao quarto. Aproximei-me do leito daquele homem desenganado.
- Olá Dr. Tudo bem?
- Qual nada moço. Desta vez eu vou. Enfim, vou poder conversar com o meu Deus.
- Não era hora de o senhor mudar de opinião sobre os negros?
- Não me fales tal palavra. Estou à morte e quero morrer feliz.
- O senhor não tem medo de receber um castigo divino?

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