Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

domingo, 31 de outubro de 2010

A folha encarnada

Lá estava eu na porta do mercado municipal, encostado em uma das bancas, esperando para ser atendido. Era a banca que vendia material escolar e artigos de papelaria. Seu Manuel, um português de uma certa idade, não perdia uma chance de fazer um gracejo com a freguesia. E eu ficava ali só prestando a atenção no movimento. De repente, um cabôco chega meio arrogante e vai logo gritando:
- Quero seis folha de papel de seda incarnada.
- Não tenho encarnada, a vermelha não serve? - perguntou seu Manuel com cara de sério.
- Não! Eu pedi encarnada e quero encarnada.
- Encarnada e vermelha é a mesma coisa. Só perguntei para testar sua inteligência?
- Entonce tá achano qui eu sou burro? Acha qui vou levá gatu pur lebre? Vermelha é vermelha, incarnada é incarnada.
- Mas senhor....
- Ora, ora, ora, .....sinhô uma ova. Tá querenu me enganar. Sou um cabôcu vividu. Conheçu bem as cor. Num é um vendedor de porta de mercadu qui vai mi inganá.

Nenhum comentário:

Postar um comentário