Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

sábado, 16 de outubro de 2010

Noite de terror (Segunda parte)

Eu achava muito bonito aqueles homens, de paletó e gravata, o suor pingando do rosto. A multidão ia ao delírio quando surgiu uma promessa que, nós meninos, dada nossa experiência em outros comícios, sabíamos mais do que ninguém que era falsa. Sempre fui apaixonado por política. O calor dos discursos me fez sonhar ser, um dia, um homem capaz de seduzir as pessoas com o poder da oratória.
Quando abri os olhos e parei de sonhar, todos já haviam discursado. Chegara a vez do nosso prefeito. Muito irreverente, gestos mansos e delicados, fizeram o povo espalhar boatos maldosos a respeito da masculinidade do prefeito. Nunca liguei para aquelas conversas, sempre fui amigo dele e ele sempre me respeitara. Eu só o tratava por “Excelência”, talvez até com uma ponta de sacarsmo.
Aquele era um dos maiores comícios da Arena, como em outras épocas: os comícios da Arena lotadíssimos, mas a vitória, em Sena Madureira, era do MDB. A presença do público deve ter deixado o prefeito empolgado:
- Meu povo.... Estou aqui para dizer....
Um gaiato emenda, lá do meio da platéia:
- Que sou um tremendo boiola.
O pau cantou feio. Os “colegas” do prefeito começaram a gritar que aquilo era uma falta de respeito. Que iriam denunciar o preconceito às autoridades, que, àquela altura já desciam do palanque, tentando se proteger, enquanto a confusão aumentava. O pau comeu e era gente correndo para todos os lados.

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