Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O Ismeril (Segunda parte)

Quando voltávamos com uma lata cheia de minhocas, nossas iscas prediletas (melhor dito, prediletas dos peixes), o Tiotoim grita:
- Corre Gilson! Pega os anzóis se não o Ismeril come tudo.
- Xô, xô, xô. Sai pra lá touro - disse eu tentando afastar o garrote.
Ele levantou aqueles enormes olhos, ficou me fitando enquanto ainda mastigava os últimos anzóis.
- Então é por isso que o nome dele é Esmeril?
- É sim. Ele come tudo. Não tem corda que dê jeito. Ninguém mantém esse bicho preso.
- Dessa vez eu duvido que ele escape. Comeu quase cem anzóis!
- Ele não vai sentir nada.
- Tio, porque o senhor não arranja um cabo de aço e prende esse touro? Aí eu quero ver se ele é mesmo Esmeril?
Sem os anzóis, nossa pesca tinha ido pro brejo. Fomos colher goiabas e dá uma passada na casa do Tio Sandoval. Lá pelas cinco da tarde voltamos pra casa, sem nenhum peixe. Quando contei a história do Esmeril em casa, o Paulo Guedes soltou aquela gargalhada, como quem diz:
- Que cabra mentiroso. Ele saiu melhor que a encomenda. Em pouco tempo tá ganhando de mim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário