Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A astúcia do caboco

Lá pelo final dos anos setentas e início dos anos oitentas, quando me mudei para Manaus, o Acre começou a receber um número maior de fazendeiros paranaenses, mato-grossenses e gaúchos. No verão, a estrada que liga Sena Madureira a Rio Branco permitia a chegada de visitantes dos locais mais distantes. Certa dia, estou na varanda da casa e vejo uma picape, daquelas importadas, passar, à toda velocidade, deixando um rastro de poeira. Sinal de que algum ricaço veio visitar Sena Madureira. Peguei a bicicleta e fui saber quem era o homem do carro importado.
A picape estava parada em frente ao Hotel Braña. Como quem não queria nada, fiquei encostado ali naquele barzinho onde era a Rádio A Voz da Cidade para abiscoitar as conversas.
- O cara saiu du carru vistidu de vaqueiru. Umas bota de canu longu. Uma calça dins e uma camisa cuns tróçus de côro pendurado e um chapéu de Panamá brancu. Devi di sê cheiu da baba - comentou um que tomava sua cervejinha, encostado no balcão.
Fui ver a placa. Era de São Paulo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário