Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Famintos


Eles te olham nos olhos
Elas também de ferem com o olhar
São parte da rua, para muitos lixo
Humanos, pedintes, sem lar.
Moram nas pontes, nos viadutos
Embaixo do nada, do lugar nenhum
São famintos de amor e afeto
E não os encontram em lugar algum.
Eu passo, tu passas, nos passamos
E fingimos que nem os notamos
É essa frieza que mais acirra a fome
De serem notados como humanos.
Nos os fazemos bichos famintos
Não os tratamos como gente
São nossos irmãos de raça e terra
Para nós, porém, são meros indigentes.

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