Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Pedinte


Não tenha inveja da minha liberdade
Do fato de eu andar pela cidade
A te incomodar em cada esquina.
Com esse olhar pedinte de menina
Peço, imploro uma esmola
Ou um prato de comida.
Há um porco-imundo que me olha com desejo
Já tentou roubar-me até um beijo
E levar minha infância a reboque.
Não chegou me dar nenhum toque
Sequer uma carícia no rosto
Escarrei na cara dele com nojo.
A rua é minha casa, meu leito
Sou digna de muito respeito
Ninguém irá me prostituir.

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