Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

53 anos

Olhei
Não acreditei:
Amei
Amamos.
E desde então:
Não paramos.
Não me enganei
Nem fui enganado
Amei e fui amado.
Chorei
Desesperado.
Pois me senti
Abandonado.
Desde o começo
Fui avisado
Por um recado
Com endereço:
Dizia assim:
É o começo do fim
Se tiver
De escolher,
Antecipo: não será você.
Não me arrependo
E te entendo.
Valeu a dor
Intenso amor
Mesma moeda
Em seus dois lados.
Não te perdi
Nem te ganhei:
Amei!
Nestes 53
De existência
Nunca sofri
Por uma ausência.
Você se foi
Não sei se volta
Meus olhos fixos
Naquela porta.
Nenhuma batida
Nem campainha
Foi só um sonho:
Não foste minha.
O telefone
Emudeceu
Meu maior sonho
Esvaneceu.
Aos 53 anos
Relembrarei
Por longos anos
Quem mais amei.
Sem me importar
Se por aquela porta
Você não entrar
A dor suporta.
Segue tua vida
Já construída
E o teu destino
Sem desatino.
Não sinta culpa
Nem se arrependa
Só compreenda
A minha luta.
Fiz o que fiz
Porque quisemos
Fui tão feliz
Nós merecemos.
Quero guardar
Doce paixão
O teu amor
No coração.
Devo a ti
E ao destino
Estar aqui
Sem desatino.
E agradecer
Até a dor
Maior que ela
Foi o amor.
Dói a saudade
Rasga o peito
Quero parar
Mas não tem jeito.
De agradecer
Sem se alongar
Só com você:
Aprendi a amar.


Nenhum comentário:

Postar um comentário