Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Cova

Você matou, enterrou de vez
Jogou o nosso amor na cova
Para demonstrar total lucidez
Nada mais entre nós se renova.
Trata-me como se fosse nada
Arbusto ao longo da estrada
Erva daninha que te aconteceu
Por isso não resistiu, morreu.
Ou então quer que eu espere
A boa vontade de você me ligar
Um dia, quem sabe, se libere
Aí liga e pede para voltar.
Assim não será, você não alimenta
Dia após dia me arrebenta
Há um mês, nenhum telefonema
Deixaste de ser meu poema.
Enterraste um punhal no meu peito
Ao me isolar deste jeito
Nenhum medo pode ser maior
De o que você dizia ser amor.
Se morto para ti agora estou
Morto para sempre quero ficar
Desfaça qualquer sonho de amor
Para você não mais vou voltar.


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