Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Sobra

Estás em mim todo momento
Todas as horas do dia
Não sais do pensamento
Vivo em eterna agonia.
Acreditei que não sofreria
Apostei: para sempre seria
O teu silêncio rasga a alma
Perdi a paz, não tenho calma.
Peito aberto, o sangue escorre
O nosso sonho, aos poucos morre
Eu e você pra vida inteira
Parece ser mera poeira.
De um castelo movediço
Não suportou primeira onda
Ao primeiro sopro, foi arrisco
E a solidão é o que sobra.
Como sombrio é o futuro
Errei em tudo o que sonhei
O que era claro, hoje é escuro:
Mereço o preço: ainda não o paguei.


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