Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Língua-romã

Em cada lugar que passo
Revejo a tua essência
O enlace dos teus braços
Compensa a tua ausência.
Se olho o prato de peixe
Espero que não me deixes
Na tapioca com tucumã
Sinto tua língua-romã.
A descer pelo corpo
Sem perdoar orifícios
E desenhar em escopo
Retratos dos nossos vícios.
De se amar e se tocar
Feito bicho no cio
Tua língua a deslizar
E provocar calafrio.
É na quentura dos lábios
Que nos fazemos mais sábios
Mas, se não estás comigo
Sofro de pleno castigo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário